Amanhã! - é o sol que desponta,
É a aurora de róseo fulgor,
É a pomba que passa e que estampa Leve sombra de um lago na flor.
Amanhã! - é a folha orvalhada,
É a rola a carpir-se de dor,
É da brisa o suspiro, - é das aves Ledo canto, -
é da fonte - o frescor. Amanhã! - são acasos da sorte; O queixume,
o prazer, o amor, O triunfo que a vida nos doura,
Ou a morte de baço palor. Amanhã! - é o vento que ruge,
A procela d'horrendo fragor, É a vida no peito mirrada,
Mal soltando um alento de dor. Amanhã! - é a folha pendida.
É a fonte sem meigo frescor, São as aves sem canto,
são bosques Já sem folhas, e o sol sem calor. Amanhã! -
são acasos da sorte!
É a vida no seu amargor, Amanhã! - o triunfo, ou a morte;
Amanhã! - o prazer, ou a dor! Amanhã! - o que val', se hoje existes!
Folga e ri de prazer e de amor; Hoje o dia nos cabe e nos toca,
De amanhã Deus somente é Senhor!
(Gonçalves Dias)
domingo, 25 de maio de 2008
Amanhã
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